Ao contrário do que apregoam os céticos, o frio não refuta o padrão de aquecimento do Planeta. Contraditório? Bem-vindo à era dos extremos climáticos
Já virou rotina. Sempre que alguma parte do globo gela além
da conta, como está acontecendo nos Estados Unidos, onde termômetros registram
mínimas recordes, céticos correm para as redes sociais, TVs e outras mídias
para praticar seu esporte favorito: questionar a realidade do aquecimento
global.
Afinal, como pode fazer tanto frio se o mundo está ficando mais quente? Esse
ceticismo pôde ser visto em pleno vigor no começo do mês, quando a sede da
emissora Fox News, em Nova York, ficou coberta de neve. Daí para frente, a
estação transmitiu vários relatos sugerindo que o tempo frio contradiz a mudança
do clima.
Os apresentadores da FoxNews não foram os únicos surpreendidos pelo tempo. O
empresário Donald Trump twittou que o navio de cientistas que, até recentemente,
estava preso no gelo da Antártida era prova de que amudança climática é
uma mentira.
Reforçando o coro, o republicano John Fleming “encerrou” (ou bagunçou ainda
mais) a confusão entre tempo e clima de forma sucinta, ao twittar: "O
aquecimento global não está tão quente nos dias de hoje."
A administração Obama, por sua vez, se encarregou de espantar os céticos. Em um
post no blog oficial, Dr. John Holdren, assessor científico do presidente dos
EUA afirma: “Se você tem ouvido que períodos de frio extremo, como o que
estamos tendo nos Estados Unidos, desmentem o aquecimento global, não acredite
nisso”.
O CACHORRO É O TEMPO, O DONO É O CLIMA
Muito do barulho criado pelos céticos do clima vem da confusão entre o conceito
de tempo e de clima. Em 2012, um canal de TV norueguês resolveu simplificar a
explicação através de um cartoon divertido. Na animação, o caminho do homem
pode ser considerado como análogo a uma mudança climática direcional, enquanto
o caminho traçado pelos movimentos caprichosos de seu cão representam flutuações
climáticas.
Apesar das decisões do cão variarem a todo tempo, o animal está restringido ao
movimento do seu dono, que segue um padrão ascendente. O cachorro aqui é o
tempo, e o dono, o clima. Por isso, um mundo em aquecimento não significa o fim
de períodos de frio e neve, mas um padrão diferente.
ERA DE EXTREMOS
O tempo frio é, pela própria definição da Nasa, uma condição determinada da
atmosfera ao longo de um curto período de tempo. Para a maioria dos cientistas
do clima, nenhuma condição de tempo passageira pode ser diretamente atribuída
às mudanças climáticas.
Assim como a onda de frio não pode ser diretamente relacionada ao clima, por si
só, nem pode a onda de calor sem precedentes que está castigando a Austrália ou
mesmo os estados brasileiros nas últimas semanas ser considerada uma causa
direta do aquecimento.
Aqueles que pensam que o tempo frio refuta a mudança climática podem ainda
estar ignorando um corpo sólido e crescente de evidências. Por mais contra
intuitivo que pareça, o aquecimento global pode contribuir, de maneira
indireta, para o recorde de frio. O fator chave aqui é um mecanismo de mudança
climática conhecido como amplificação do Ártico.
Neste momento, a região do Ártico está se aquecendo rapidamente. E alguns
cientistas acreditam que isso poderia gerar efeitos imprevisíveis. Pode, por
exemplo, causar tempestades ou ondas de calor que se manteriam em um lugar por
longos períodos de tempo.
Ou poderia permitir explosões maiores de jatos de ar frio do Ártico até aos
Estados Unidos - como está acontecendo agora.
Em entrevista à agência AFP, Dim Coumou, cientista sênior do Instituto Potsdam
de Pesquisas sobre o Impacto Climático (PIK), perto de Berlim, explicou que a
forte onda de frio na América do Norte seria resultado de um 'desvio' do ar do
Ártico para o sul e o aquecimento global pode ser a causa deste evento incomum.
Segundo o especialista, o ar do Ártico costuma ficar confinado no topo do mundo
devido a um potente vento circular chamado vórtice polar. “Quando o vórtice
perde força, o ar começa a se dirigir para o sul, levando neve e frio
excepcionais para latitudes intermediárias”, disse. Um fenômeno que tem se
repetido.
É impossível ignorar que o tempo também está se tornando mais extremo, mais
quente, mais frio, mais úmido e seco do que antes. Não custa lembrar que 2013
entrou para a lista dos anos mais quentes já registrados, tendo o mês de
novembro quebrado todos os recordes.
Tempestades como o tufão Haiyan, o fenômeno mais mortal de 2013, não podem ser
diretamente ligadas à mudança climática, mas os cientistas já disseram que o
mundo deve se preparar para tempestades tão furiosas quanto a medida que o
mundo se torna mais quente.
Evidências não param de surgir. No final de dezembro, um artigo publicado na
revista Nature, apontou que o aquecimento global deve elevar as temperaturas em
4°C até o início do próximo século, engrossando as evidências apresentadas no
5º relatório do IPCC, o documento mais importante sobre o estado das mudanças
climáticas, feito por centenas de cientistas de todo o mundo.
Estas temperaturas crescentes são causadas principalmente por um aumento das
emissões que retêm o calor na atmosfera, criadas quando queimamos carvão,
petróleo e gás para gerar eletricidade e alimentar a frota de carros e outros
transportes.
Originalmente: Planeta Sustentável
Originalmente: Planeta Sustentável
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