Como a pobreza imposta à Grécia degrada o ambiente
Programas de austeridade do neoliberalismo estão provocando
o sofrimento de milhões de pessoas, que respondem pelo comportamento leviano do
setor financeiro, avalizado pelo sistema. A Grécia está sendo particularmente
atingida. Os níveis de poluição do ar caíram em 40% desde 2008, mas isto não é
algo para comemorar. Não é um resultado de políticas eficientes, e sim da
recessão.
Alguns ambientalistas consideram o fato um ganho. Mas o que
está acontecendo no país é um aumento maciço do smog, ou um nevoeiro
contaminado por fuligem. O problema é sério em cidades importantes como Atenas
e Salonica, mas vem sendo relatado em todo lugar, incluindo Ática e o
Peloponeso. E não se trata do smog verificado em dias quentes em cidades
do mundo desenvolvido, com seus carros.
É uma forma mais rude, uma volta no tempo. O povo está
queimando lenha como combustível doméstico, o que lembra a Londres de muitas
décadas atrás. Em Londres, a média de matéria particulada no ar caiu de cerca
de 160 microgramas por metro cúbico para menos de 20 entre 1961 a 1998. Na
Grécia, os níveis alcançam hoje 300 microgramas, o que é considerado perigoso
para a saúde humana pela Organização Mundial de Saúde.
Os efeitos são perversos, como comentou o analista grego
Nikos Konstandaras : “Esta nova praga parece ser democrática, no centro e no
subúrbio, sobre ricos e pobres, jovens e velhos, nativos e imigrantes… Mas o
verniz da universalidade é fino: mais uma vez são os pobres que sofrem mais.
Vivem em terras mais baixas, onde as toxinas se juntam, são forçados a queimar
o que encontrarem… Não têm recursos de mandar membros vulneráveis da família
para o campo.”
O governo grego estima que 13 mil toneladas de madeira foram
cortadas ilegalmente no ano passado. O país retorna ao ponto mais baixo da
chamada curva de Kuznetz. O economista teorizou que quando uma civilização
começa a usar seus recursos naturais, ela aumenta seu impacto sobre o ambiente
até um ponto em que a economia se torna mais eficiente e reduz este impacto.
Acontece nos países mais ricos. Mas não na Grécia.
O país ficou nas mãos da política de austeridade européia
quando descobriu, logo depois da crise global financeira, que não poderia pagar
sua dívida. Em troca de capital para salvar a situação, a Grécia concordou em
cortar seu deficit. E os impostos subiram – sobre a renda, a propriedade e
energia. Combinadas ao custo mais alto do petróleo, estas altas elevaram os
custos de aquecimento em mais de 40% no começo do mês mais frio no país,
janeiro.
O desemprego grego é o mais alto do mundo desenvolvido,
comenta The Atlantic. O PIB do país passa por sua pior contração em
tempos de paz de qualquer país não-comunista desde o século 19.
“A atmosfera nunca foi pior”, diz Marianna Filipopoulou, uma
antropóloga que viveu em Atenas por quatro anos. “Esta cada vez mais difícil de
respirar. Mesmo nossos olhos dóem por causa do smog.” Ela diz que a culpa não é
das famílias, mas da circunstância deplorável delas. “Nã há outro jeito, dada a
escassez de dinheiro.”
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